Fracasso na Advocacia
Em algumas oportunidades, já falei sobre a ideia de fracasso na Advocacia. Fiz, por exemplo, um vídeo em que destaco uma ideia importante: há mais pessoas desistindo da Advocacia do que fracassando (veja aqui). Também já expliquei que, como regra, você não terá ajuda na Advocacia (leia aqui).
A verdade é que há vários “microfracassos” que desanimam o Advogado com o tempo. Alguns exemplos podem ser facilmente mencionados.
Cita-se, por exemplo, quando o Advogado abre o escritório extremamente ansioso e, algumas semanas depois, o telefone ainda não tocou. Quando toca, pode ser apenas alguém querendo “tirar uma dúvida”, expressão que tenta afastar o caráter de consulta desse atendimento.
Aquele que começa na Advocacia com algum capital ou com a ideia de rendimento rápido pode cair no fracasso financeiro. Depois de alguns meses, o escritório “não se paga”, apesar de todos os esforços. Alguns gastam desnecessariamente na abertura do escritório, comprando, por exemplo, objetos decorativos ou que não são imprescindíveis para o funcionamento do escritório, como máquinas de café e papéis de parede.
Um dos fracassos mais bizarros é o da rede de contatos. Durante a faculdade, todos se ajudam, são colegas, saem juntos, compartilham materiais e tudo mais. Depois da formatura, no mercado de trabalho, passa a ser “cada um por si”, com um paulatino afastamento de ex-colegas de faculdade.
Para completar, há o “microfracasso” da falta de evolução. É comum que um Advogado em início de carreira, ainda sem condições de abrir o seu escritório, envie currículos para várias bancas, não obtendo retorno. Enquanto isso, vê seus ex-colegas de faculdade abrindo escritórios com móveis planejados ou ingressando em bancas conhecidas.
Se abre o próprio escritório, há uma chance de que ocorra um “fracasso financeiro”: após um mês de muito trabalho, não consegue nem mesmo pagar todas as despesas (pessoais e profissionais), momento em que começa a se questionar se está pagando para trabalhar. Nesse momento, surge a pergunta de sempre: não seria melhor fazer concurso?
Surge, mais uma vez, outro microfracasso: a falta de esperança dos familiares. Todos começam a questionar se um concurso público seria o melhor caminho, se seria melhor procurar um emprego ou se deveria começar a cobrar mais barato. Para piorar, alguns parentes ainda fazem comparações indelicadas, com frases como “o filho da Maria se formou há 2 meses e já está cheio de trabalho”.
É fundamental encarar cada “fracasso” como aprendizado.
Se fez uma consulta gratuita para um cliente que depois repassou todas as orientações para outro Advogado (que cobrou mais barato), aprenda a cobrar pela consulta ou apenas passar o orçamento do serviço, sem outras orientações. Se uma parceria deu errado, aprenda a focar na qualidade, e não na quantidade de parceiros. Caso tenha aberto um escritório – que fracassou – com um amigo, aprenda a separar amizades e negócios (salvo se o amigo também for ético e competente).
Os verdadeiros fracassos na Advocacia
Definitivamente, na Advocacia, há apenas dois fracassos significativos: o ético e o da desistência.
Caso o Advogado considere que não há mais como sobreviver no mercado jurídico de forma ética, optando, consequentemente, por práticas antiéticas e até criminosas, há um fracasso de difícil retorno. O desvio ético é o fracasso mais reprovável de todos.
Por sua vez, a desistência é um fracasso voluntário, muitas vezes com um falso caráter de involuntariedade (“não havia alternativa”). Diferentemente do fracasso ético, esse fracasso não prejudica terceiros, mas apenas o próprio Advogado, que permanecerá questionando o que teria acontecido se insistisse um pouco mais na Advocacia. Nesse fracasso, há sempre o risco de desistir sem ter feito tudo que poderia fazer ou quando estava começando a curva ascendente na carreira. Aliás, sobre a desistência no Direito, recomendo um texto anterior (leia aqui).
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