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Evinis Talon

Processo Penal: defendendo no atacado. O que me motiva atualmente?

30/11/2018

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Nos últimos meses, deixei de aceitar alguns compromissos profissionais para continuar tendo tempo livre e, consequentemente, poder produzir conteúdo para os cursos e materiais gratuitos (artigos e vídeos) para o meu site.

Da mesma forma, quando algum colega pede ajuda para algum processo específico, minha assessoria, que está ficando com o meu WhatsApp (apenas acesso o WhatsApp Web quando necessário), informa que, por falta de tempo, não estou vendo as mensagens privadas e os e-mails.

O que uma coisa tem a ver com a outra? Qual é a minha motivação com a produção de conteúdo quase diariamente?

Pois bem. Vamos começar pela segunda pergunta.

Obviamente, com a produção desses inúmeros materiais gratuitos, tinha o desiderato de fazer marketing de conteúdo, uma das formas de gerar autoridade e, por conseguinte, contratações nas mais variadas formas de atuação: Advocacia, consultoria, docência em cursos de pós-graduação, palestras etc.

Entretanto, há uma motivação que poucos conhecem. Na verdade, talvez apenas os leitores mais atentos do meu texto “Por que deixei de ser Defensor Público para ser Advogado Criminalista?” (clique aqui) saibam.

Quando era Defensor Público, atuava em muitos processos criminais, mas apenas em uma comarca. Quando analisava um processo de outra comarca, normalmente por precatória, pensava: “nesse ponto, poderia ter sido invocada tal tese”.

Obviamente, a função do Defensor Público é relevantíssima. Uma das mais belas! O que me incomodava era o fato de não ter possibilidade de ajudar em processos de outras cidades. Aliás, mesmo que tivesse a possibilidade, não teria tempo, haja vista o excesso de trabalho da Defensoria Pública. Portanto, ainda que fizesse um bom trabalho na comarca, não se tratava de atividade escalável, isto é, os benefícios gerados ficariam limitados a determinado local.

Na Advocacia Criminal, a limitação geográfica não mais existe, mas há uma limitação temporal. Ainda que possa atuar em qualquer cidade do país, não é possível atuar em muitos processos, porque a Advocacia é exigente: viagens, esperas, análises demoradas, atendimentos etc.

Entretanto, refletindo bastante, percebi que o que ajuda não é necessariamente a minha presença física, mas sim as informações que eventualmente tenho.

Por esse motivo, percebi que a forma de atuação escalável (gerando o máximo de benefício coletivo com o menor esforço possível) era por meio da consultoria e da produção de conteúdo para Advogados e Defensores Públicos.

Quanto à consultoria, que já expliquei em outros textos (clique aqui, aqui, aqui e aqui), minha atuação consiste no acompanhamento e na elaboração de teses e estratégias, o que possibilita que, do meu escritório em Gramado/RS (às vezes, fico vários dias em casa sem ir ao escritório), acompanhe processos pelo Brasil inteiro, vendo diferentes estilos de atuação de Promotores, assim como entendimentos elogiáveis ou criticáveis de vários Magistrados. É o fim da limitação geográfica!

Aliás, como informei nas redes sociais recentemente, para manter a qualidade de vida e a pesada rotina de estudos, atuarei, no âmbito processual, exclusivamente por meio da consultoria e da produção de pareceres para outros Advogado.

Quanto à produção de conteúdo, um fato recente chamou a minha atenção.

No início de novembro, palestrei no Encontro da Advocacia Criminal no Mato Grosso, evento realizado pela ABRACRIM. Após a minha palestra sobre execução penal, o Juiz da execução penal, Dr. Geraldo Fidélis, por quem tenho profunda admiração em razão de sua atuação garantista e com quem desenvolvi uma boa amizade, disse ao microfone, em tom de brincadeira: “se o professor tivesse falado sobre sua tese das metapunições hoje, acredito que chegariam ao meu gabinete vários requerimentos durante a semana”.

Esse fato me deixou feliz e pensativo ao mesmo tempo. Por um lado, fiquei feliz por ver que alguém que decide inúmeros pedidos na execução penal conhecia a minha tese das metapunições. Por outro lado, fiquei pensativo quanto à possibilidade de influenciar a ação de outros colegas.

O alcance dos conteúdos é imensurável. Na verdade, não totalmente imensurável, porque alguns números são facilmente analisados.

No curso por assinatura, acompanhando mais de 500 vídeos, além de 3 novos vídeos semanais e áudios diários, são mais de 10.200 alunos. Indago-me qual seria a média de processos para cada aluno. Se, em geral, há uma média de 10 processos vinculados a cada aluno (alguns não advogam ou ainda são estudantes, mas outros atuam em centenas de processos), as minhas aulas semanais (vídeos) e diárias (áudios) podem produzir efeitos em cerca de 102 mil processos.

Ademais, há, ainda, vários cursos organizados pelo Canal Ciências Criminais e ministrados por mim, como os cursos de Prática Processual Penal, Execução Penal, Teses defensivas e Como iniciar na Advocacia Criminal. No total, também há milhares de alunos.

Sobre a produção de conteúdo gratuito, há milhares de pessoas que acompanham minhas publicações diariamente.

No momento da publicação deste texto, o meu site (este em que você está lendo o texto) tem mais de 10 mil acessos diários. No Youtube, acompanhando os vídeos que publico quase todos os dias, são mais de 56 mil pessoas inscritas, com mais de 2,8 milhões de minutos visualizados. No Instagram, mais de 88 mil pessoas acompanham as publicações diárias (entre 5 e 10 publicações). No Facebook, somando os dois perfis e as duas páginas (pessoal e do curso), são mais de 130 mil pessoas. No Linkedin, cerca de 27 mil pessoas. Também são mais de 70 listas de transmissão no WhatsApp, além de dezenas de milhares de pessoas que recebem as publicações diretamente no e-mail ou que clicaram no “sino vermelho” para receberem uma notificação quando for postado algum vídeo ou artigo no site.

Sinceramente, não sei quantas pessoas realmente leem as publicações, tampouco se aplicam as dicas nos processos em que atuam. De qualquer forma, se fosse para ajudar apenas 10 pessoas, já valeria o esforço.

Minha motivação é estudar e encontrar teses que os colegas extremamente ocupados não conseguem encontrar, diante da limitação de tempo e dos vários deslocamentos. De certa forma, quero ser o “estagiário” (já disse que não ligo para status) do maior número possível de Advogados, Defensores Públicos e quem mais quiser lutar pelos direitos fundamentais.

Essa “influência” não pode ser gerada apenas nos cursos formais, como nos vários cursos de pós-graduação em que leciono, porque há um número limitado de alunos (normalmente, menos de 50), além das limitações geográficas (um aluno do Norte ou do Nordeste não frequentará uma aula presencial aqui no Rio Grande do Sul), meteorológicas (num dia de chuva mais forte, o número de alunos é drasticamente reduzido) e temporais (uma aula ao vivo, sem gravação, encerra o seu conteúdo naquele momento. Se não foi, não verá o conteúdo. Se foi e ficou com dúvidas, deverá perguntar ou ficará impossibilitado de ver a aula novamente para tirar as dúvidas).

Tudo isso é para demonstrar que, verdadeiramente, sem prejudicar o meu trabalho, eu conseguiria ajudar individualmente apenas uns 5 a 10 colegas por dia, o que não seria escalável. Nesse caso, deixaria de ajudar todos os outros por meio de artigos, vídeos, cursos etc.

Enfim, cada dia estou mais apaixonado por essa forma de “atuação”. Não pretendo parar de lecionar em cursos de pós-graduação, mas também não tenho aquela ambição acadêmica de outrora (vincular-me a uma faculdade e ficar nela até a aposentadoria).

Aliás, o empreendedorismo me ensinou que status, reconhecimento (removendo o “re”, sobra o que realmente interessa: conhecimento) e títulos valem muito pouco. Normalmente, valem apenas dentro de uma bolha.

Nesse ponto, lembro-me de algo narrado por um professor que tive na graduação. Ele falou que, em determinado lugar, um cliente marcou uma consulta com um Advogado que queria mostrar conhecimento a todo custo, não ligando para eventuais resultados. Quando o cliente indagou se seria preso, o Advogado estava mais preocupado em demonstrar que sabia o que era um crime de tendência interna subjetiva transcendente do que propriamente analisar se ele seria preso. No final, depois de uma grande explicação filosófica, o cliente perguntou novamente: “OK, mas, afinal, eu serei preso?”.

Então, o que vale mais? Na minha opinião, os resultados. Talvez seja utópico, mas o resultado que busco é contribuir para a qualificação dos colegas e o fortalecimento da doutrina, o que poderá repercutir nos milhares de processos em que atuam.

De certa forma, quando produzo conteúdo, tenho a pretensão de realizar “defesas no atacado”, influenciando quem fará a “defesa no varejo” e ajudando para que todos os direitos sejam respeitados.

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Evinis Talon é Advogado Criminalista com atuação no Brasil inteiro, com 12 anos de experiência na defesa penal, professor de cursos de mestrado e doutorado com experiência de 11 anos na docência, Doutor em Direito Penal pelo Centro de Estudios de Posgrado (México), Doutorando pela Universidade do Minho (Portugal – aprovado em 1º lugar), Mestre em Direito (UNISC), Máster en Derecho Penal (Universidade de Sevilha), Máster en Derecho Penitenciario (Universidade de Barcelona), Máster en Derecho Probatorio (Universidade de Barcelona), Máster en Derechos Fundamentales (Universidade Carlos III de Madrid), Máster en Política Criminal (Universidade de Salamanca), especialista em Direito Penal, Processo Penal, Direito Constitucional, Filosofia e Sociologia, autor de 7 livros, ex-Defensor Público do Rio Grande do Sul (2012-2015, pedindo exoneração para advogar. Aprovado em todas as fases durante a graduação), palestrante que já participou de eventos em 3 continentes e investigador do Centro de Investigação em Justiça e Governação (JusGov) de Portugal. Citado na jurisprudência de vários tribunais, como TRF1, TJSP, TJPR, TJSC, TJGO, TJMG, TJSE e outros.

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