Leitura e Advocacia: uma outra visão
Todos sabem (ou deveriam saber) que a leitura é fundamental para os Advogados. Quando um estudante ingressa no curso de Direito, imediatamente alguém faz o alerta: você deverá atualizar-se permanentemente.
De fato, as leis são continuamente modificadas, novos entendimentos jurisprudenciais são divulgados semanalmente e (ainda) há uma considerável publicação de novas teses doutrinárias. Quem não estuda perderá, cedo ou tarde, a confiança dos seus clientes e parceiros, caindo no ostracismo de um escritório que, se não fechar as portas, receberá apenas clientes que desejam leiloar honorários.
Esse aspecto da imprescindibilidade da leitura e dos estudos é de conhecimento geral.
O que proponho neste texto não é repetir algo que todos dizem, mas sim demonstrar outros aspectos da relevância da leitura para Advogados.
Um ponto muito importante da leitura é a ampliação do repertório para conversas com clientes e prospectos. Aqui, a mera leitura de livros e artigos jurídicos não terá muita utilidade.
Salvo exceções (Consultores, Pareceristas e Advogados que se encontrem prestando serviços a outro Advogado, normalmente de outra área), o cliente do Advogado não tem formação jurídica. Em muitos casos, o cliente deseja apenas a solução, tendo pouco interesse em descobrir quais foram os meios empregados ou quais são as medidas legalmente cabíveis.
Destarte, se o Advogado não tiver algum conhecimento de outros assuntos que sejam do interesse do cliente, a relação consistirá unicamente em diálogos profissionais que, como é sabido, não geram uma relação mais próxima.
É equivocado pensar que o cliente, na fase de negociação, avalia somente o currículo do Advogado. Quando se cria uma empatia entre Advogado e cliente como decorrência da afinidade de interesses, a negociação se torna mais fácil.
A lógica é simples: se dois Advogados possuem a mesma experiência e são igualmente éticos, o que diferenciará esses profissionais é o atendimento. Quem conquista a confiança do cliente e produz uma conexão com ele adquire uma vantagem, porque demonstra um real interesse que vai além da simples pretensão de receber honorários.
Ter muitas leituras e conseguir falar naturalmente sobre vários assuntos demonstra uma erudição que vai além do mero conhecimento jurídico. Os clientes notam essa erudição. Assim, é imprescindível ler livros, artigos, revistas e sites sobre diversos temas. Do futebol (tema que interessa a quase todos) até a filosofia, passando por música, economia e política, não há leitura que não seja capaz de contribuir para personalizar o atendimento ao cliente.
Nos dias anteriores a um atendimento, é recomendável ler sites e notícias sobre a atividade do cliente, seja qual for, porque isso pode estabelecer uma identidade entre o Advogado e o cliente, além de contribuir para a análise do caso “sub judice”.
Além de ser relevante para ter um maior repertório de assuntos que podem ser tratados em conversas formais e informais, a leitura também é útil para melhorar a redação e para aguçar o raciocínio. Sobre a melhora da redação, não há muito o que falar. Sabe-se que, normalmente, quem lê muito tem a tendência de escrever bem. A questão mais interessante está relacionada a aguçar o raciocínio.
Explico: não tenho muito conhecimento sobre o assunto, mas me parece que ninguém nasce inteligente. Creio que a inteligência (o raciocínio em si, e não o mero acúmulo de informações) é conquistada com o tempo, conforme se exercite continuamente o cérebro.
Nesse diapasão, a importância da leitura para o Advogado vai além do aumento do repertório para conversas e da melhora da redação para suas peças processuais. O Advogado que se dedica continuamente à leitura permanecerá exercitando o cérebro, fazendo-o evoluir consideravelmente.
Nessa linha, obterá maior capacidade para montar estratégias, improvisar, avaliar situações, definir roteiros de perguntas que devem ser feitas às testemunhas e qualquer outra coisa que exija um raciocínio apurado.
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