Produtividade acadêmica e Advocacia Criminal são incompatíveis?
Muitos utilizam o exercício da Advocacia Criminal como pretexto para não produzirem conteúdos acadêmicos, como se houvesse uma incompatibilidade entre os estudos e os esforços necessários a essas duas importantes atividades.
Já tratei de uma parte desse assunto no meu artigo “O jurista que não gostava de ler”, quando introduzi os conceitos de reserva pessoal do possível dos juristas e o seu contraponto, qual seja, o mínimo de produção intelectual (leia aqui).
Verdadeiramente, produtividade acadêmica e Advocacia Criminal não são incompatíveis, mas sim complementares, desde que se mantenha um foco em comum, evitando a disparidade entre o que se escreve e aquilo que se enfrenta na prática profissional.
Explico: produzir academicamente sobre Direito Civil enquanto passa o dia trabalhando na Advocacia Criminal é algo incompatível ou, no mínimo, que exige um esforço descomunal. São focos diferentes, que exigem leituras completamente diversas.
Por outro lado, dedicar-se a produzir conteúdo acadêmico sobre a disciplina relacionada ao ramo em que atua na Advocacia gera benefícios nas duas atividades, além de gerar uma produtividade muito maior nas duas atividades.
É mais agradável e produtivo redigir artigos ou livros quando se está imerso naquela área sobre a qual se pretende escrever. Passa-se a ter a noção de que um esforço pode gerar vantagens em duas áreas diversas. Como exemplo, aquele que se dedica a escrever sobre prisão terá benefícios em duas áreas, quais sejam, produzirá conteúdo intelectual sobre o assunto e agregará conhecimentos para todos aqueles processos em que enfrentará a problemática da prisão. Em suma, são dois crescimentos – intelectual e profissional – com apenas um esforço.
No caminho inverso, o exercício da Advocacia Criminal é mais profícuo quando se está imerso academicamente em leituras relacionadas aos problemas que enfrenta no seu múnus diário.
Em outras palavras, quando a produção intelectual e a atividade profissional estão direcionaras para a mesma área, há um mútuo complemento.
Por esses motivos, considero que quem afirma não conseguir produzir textos acadêmicos em virtude da exigência de esforços da Advocacia Criminal pode estar sofrendo de alguns problemas, como:
– estar tentando produzir algo sobre uma área diversa daquela em que atua.
– estar utilizando o trabalho como desculpa para se manter afastado dos estudos.
– estar advogando sem se dedicar aos estudos necessários.
Como experiência própria, relato que possuía enorme dificuldade para escrever quando produzia artigos sobre diversas áreas. Já escrevi sobre Direito do Consumidor, Administrativo, Processo Civil etc., e sempre demorava muitos dias para escrever textos curtos.
Atualmente, concentrando-me no estudo e na produção relativa à área criminal, minha produtividade aumentou consideravelmente, chegando ao ponto de escrever várias colunas semanais, artigos diários, planos de aula dos cursos de pós-graduação em que leciono e livros.
Como forma de superar os problemas anteriormente descritos, deixo a primeira dica: foque na mesma área em sua produção intelectual e em sua atividade profissional. Se pretende exercer a Advocacia Criminal, produza apenas sobre Direito Penal, Processo Penal e Execução Penal, evitando conteúdos específicos de outros ramos, como Direito Civil ou Direito do Trabalho, por exemplo.
Em um segundo momento, entenda que há um mútuo complemento entre a produção acadêmica e o exercício da Advocacia Criminal. Quem escreve está também se aperfeiçoando para a prática profissional e, ao se dedicar à Advocacia Criminal, perceberá aspectos relevantes para a sua produção intelectual. Essas atividades são compatíveis e complementares.
Como terceira dica, sugiro que você concentre sua produção acadêmica pensando nos dois extremos de sua vida profissional.
De um lado, produza artigos sobre aqueles temas que você domina, para que consiga se aprofundar ainda mais e gerar conteúdos que sejam referência para outros estudiosos. Assim, você conseguirá produzir em maior quantidade e qualidade sem despender tantos esforços.
Por outro lado, também escreva sobre temas de sua área em relação aos quais você tem mais dificuldade, porque, ao se concentrar também nesses temas, a sua pesquisa – e posterior produção – acadêmica contribuirá para suprir suas deficiências na atuação profissional.
Por fim, leia o meu artigo “6 dicas para escrever mais rápido e melhor” (leia aqui).