STJ: o crime do art. 67 da Lei n. 9.605/98 é de natureza formal
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) possui a seguinte tese fixada envolvendo Direito Penal e Direito Ambiental:
“O crime do art. 67 da Lei n. 9.605/1998 é de natureza formal; consuma-se com a simples emissão do ato administrativo, dispensada a perícia para a comprovação da materialidade delitiva”.
Confira a ementa relacionada:
PENAL. PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ART. 67 DA LEI N. 9.605/98. CRIME AMBIENTAL. CONCESSÃO DE AUTORIZAÇÃO DE CONSTRUÇÃO EM ÁREA DE APP, EM DESACORDO COM AS NORMAS AMBIENTAIS. OBEDIÊNCIA AO CÓDIGO FLORESTAL. NECESSIDADE. MATERIALIDADE DELITIVA CONFIGURADA. DELITO FORMAL. DESNECESSIDADE DE PERÍCIA. PRECEDENTES DESTA CORTE. PRESENÇA DE DOLO. ERRO DE PROIBIÇÃO AFASTADO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – STJ. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS NS. 28 2 E 356 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – STF. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Colhe-se da sentença condenatória que o recorrente emitiu ato autorizativo em desacordo com as normas ambientais. Isso porque, em se tratando de ocupação de faixas marginais de cursos d’água situados em área urbana, deveria ter se atentado para os limites impostos pelo Código Florestal, em detrimento das distâncias fixadas no Plano Diretor do Município de Resende-RJ. O próprio ato autorizativo subscrito pela municipalidade, utilizado como arma da defesa para a exclusão do dolo, declarava que o imóvel se encontrava em área de APP. 2. As instâncias ordinárias, soberanas no exame do conjunto fático e probatório dos autos, concluíram estarem devidamente demonstradas, tanto formal quanto materialmente, as tipicidades das condutas imputadas ao recorrente, bem como a presença de dolo. No mesmo sentido, não reconheceram a figura do erro de proibição inevitável, porque o réu teria sido intimado pessoalmente da Recomendação PRM Resende-RJ n. 01/2009, onde foram solicitadas providências para a não concessão de licenças, em zona urbana ou rural, para a remoção de vegetação e/ou construção em áreas de preservação permanente, definidas no Código Florestal. 3. As duas Turmas deste STJ especializadas em direito penal entendem que o crime do art. 67 da Lei 9.605/1998 é formal, consumando-se com a simples expedição da autorização, sendo dispensável a perícia para a comprovação da materialidade delitiva. 4. A inversão do julgado nos pontos destacados demandaria o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, providência inviável nesta instância especial, nos termos da Súmula n. 7/STJ. 5. O TRF2ª Região não emitiu juízo de valor sobre a tese de que a conduta delitiva do art. 67 da Lei n. 9.605/98 deve ser praticada, necessariamente, por funcionário público, imbuído das atribuições do cargo, devendo ser mantidos os óbices das Súmulas ns. 282 e 356 do STF. Do mesmo modo, a respeito da aplicação da lei relativa ao parcelamento do solo urbano em detrimento do Código Florestal, o tema deveria ter sido melhor esclarecido pelo Tribunal Regional, e, portanto, levado a debate pela defesa, pois aquela Corte se limitou a dizer que “em se tratando de ocupação das faixas marginais de cursos d’água situados em área urbana, deve-se atender aos limites impostos pelo Código Florestal à época em vigor (Lei Federal n° 4.771/1965, artigo 2°, alínea “a”, e parágrafo único) em detrimento da distância fixada no Plano Diretor do Município de Resende/RJ (Lei Municipal n. 2.668/2009)”. 6. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp n. 1.798.180/RJ, relator Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, julgado em 27/3/2023, DJe de 31/3/2023.)
Outros julgados sobre o tema:
AgRg no AREsp 1785461/RJ, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 07/02/2023, DJe 13/02/2023
AgRg no AREsp 1792583/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 08/02/2022, DJe 15/02/2022
AgRg no AREsp 1857048/RJ, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 03/08/2021, DJe 10/08/2021
AgRg no REsp 1675032/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 25/09/2018, DJe 03/10/2018
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Fonte: Jurisprudência em Teses do STJ – Edição nº 218 (acesse aqui).
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