Quando falamos sobre Advocacia Criminal, falamos sobre abdicar de muitas coisas em prol de várias outras que dificilmente geram algum reconhecimento. Como já abordei em outra oportunidade, não se deve esperar “obrigado” na Advocacia Criminal (leia aqui).
Não há feriados ou descanso (leia aqui), pois sempre pode ocorrer uma prisão em flagrante. Por outro lado, enfrentamos uma guerra contra várias autoridades e, inclusive, colegas (leia aqui), que desconsideram a relevante função que desempenhamos diariamente. Além disso, sofremos com inúmeras arbitrariedades (leia aqui) e somos potenciais alvos de vários riscos (leia aqui).
Ninguém pode dizer que a Advocacia Criminal é apenas uma profissão. Não! É muito mais do que isso. É dedicar a própria existência a cuidar da vida dos outros.
Verdadeiramente, o Advogado Criminalista sacrifica parte considerável da sua vida para proteger a vida de outras pessoas que, não raramente, nem conhece.
Quem seria tolo de dizer que o Advogado Criminalista somente desempenha sua função como decorrência dos honorários? Como é sabido, outras atividades – sem o mesmo sofrimento – poderiam remunerá-lo no mesmo patamar ou até mais.
Para se graduar, são dedicados vários anos. Para se manter atualizado, uma vida inteira de estudos. Quando não estamos nos livros, estamos nos autos (e vice-versa). Uma vida dedicada (alguns diriam “perdida”) a se aprimorar na defesa de outras vidas.
Não raramente, passa-se mais tempo com clientes e colegas do que com a própria família. Sacrifica-se a convivência familiar em prol da defesa da liberdade.
A tranquilidade de levar uma vida despreocupada nunca mais retorna. Depois de saber o que acontece nas masmorras do cárcere no Brasil, não se consegue mais ver uma notícia sobre a prisão de alguém sem imaginar o que essa pessoa passará dentro do sistema prisional.
Para quem se preocupa com o outro, a Advocacia Criminal gera um estado de contínuo incômodo. Estamos sempre incomodados com os projetos de lei punitivistas, o descaso das autoridades e a espetacularização dos processos.
Sinceramente, não sabemos como alguns Juízes conseguem dormir tranquilamente apesar de terem em suas mesas do fórum processos com pedidos de progressão de regime ou livramento condicional ainda não apreciados. Como decretam a prisão preventiva de alguém e não se sentem incomodados? Há alguma insegurança quanto à possibilidade de encarcerarem um inocente? Na prática, parece não haver esse constrangimento, mas apenas uma despreocupação generalizada.
Por outro lado, o Advogado permanece em contínuo desconforto. Um incômodo que o impede de relaxar enquanto não tenha apreciado todos os processos em que atua e avaliado todas as teses possíveis. Quantas noites de sono já perdemos pensando em audiências ou júris que decidiriam vidas?
Enfim, se tivesse que resumir a jornada na Advocacia Criminal, diria: “uma vida – a do Advogado – por outras vidas.”
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