Os profissionais jurídicos devem executar ideias
Nos últimos meses (não mais que nos 6 últimos meses), executei uma série de projetos, dentre eles o lançamento de uma coleção de livros (O Criminalista – veja aqui), a mudança da sede da consultoria para Gramado/RS, facilitando reuniões com estudantes e profissionais de outros Estados (veja aqui), o lançamento de um curso por assinatura sobre Direito Penal, Processo Penal e Execução Penal (veja aqui) e, no momento, a fundação do International Center for Criminal Studies, com representação em dezenas de países e que abrirá as inscrições para novos membros nas próximas semanas, tendo a finalidade de unir Criminalistas do mundo inteiro em torno da formação de comissões, do intercâmbio de práticas, da realização de reuniões por videoconferências e da publicação de obras temáticas.
Em virtude dessas iniciativas, sou diariamente indagado sobre a execução de tantos projetos em tão pouco tempo. Modéstia às favas – como diria um Ministro do STF -, considero que já sou apto a falar um pouco sobre a execução de ideias no mundo jurídico.
Incomoda-me instituir parcerias ou qualquer outro tipo de relação profissional com quem tem dificuldade para implementar as ideias que tem. Na verdade, o mundo – incluindo o mundo jurídico – não é dos sonhadores, mas sim dos estrategistas/sonhadores que executam.
Há inúmeras ideias que, por inércia de quem as teve, jamais saem do papel. O ambiente jurídico é inundado disso, especialmente pelos inúmeros compromissos que preenchem a agenda dos profissionais, como audiências marcadas aleatoriamente por Magistrados de várias comarcas, visitas surpresas de clientes querendo informações sobre processos e intimações que exigem alguma manifestação posterior.
Boas ideias são preteridas eternamente em razão de desculpas padronizadas, como falta de tempo. Muitos pensam em novos modelos de negócios no mundo jurídico, mas não possuem a mínima disposição para constituí-los. Imaginam novos serviços que podem ser oferecidos na Advocacia. Contudo, as novidades permanecem no plano onírico.
Há Advogados que, conquanto saibam da necessidade de formalizar parcerias, passam o dia no escritório, adiando essa importante estratégia de crescimento. Talvez até saibam quem seriam os parceiros ideais (quanto à área de atuação e ao aspecto geográfico), mas não tentam contatá-los para agendar uma reunião, apesar de estarem a cada momento com um número menor de clientes. Esse é o erro: deixam de fazer algo que pode alavancar o escritório, porque estão preocupados com a iminente decadência. Eles têm a ideia, mas não querem/conseguem executá-la.
Também há institutos, instituições ou associações que, em razão da inércia diretiva, transformam-se em mera formalidade (ou nem isso) para a inclusão de linhas em currículos ou redes sociais.
Já ouvi colegas competentes dizendo que possuem uma interessante ideia para um livro. Alguns falam que uma hora escreverão um artigo sobre determinado tema, mas nunca se dedicam a isso. Uma história – verdadeira ou não – diz que alguém viu um pianista tocando de forma fabulosa, dizendo-lhe que daria a vida para tocar piano da mesma forma, momento em que o pianista respondeu “pois então. Eu dei minha vida”.
Em todos os exemplos citados, há boas ideias, mas inexiste a execução. Talvez queiram fazer algo perfeito e, por esse motivo, jamais chegam ao feito. Assim, escritórios fecham e produzem concurseiros frustrados pelo insucesso na Advocacia, bons escritores envelhecem sem produção intelectual, instituições se extinguem ou são ultrapassadas etc.
Uma prática pouco difundida no ambiente jurídico é a necessidade de definir as prioridades. O tempo do sócio principal de um escritório de Advocacia ou de um empreendedor jurídico não pode ser utilizado preponderantemente para o operacional ou o executivo. É necessário focar no estratégico, sabendo delegar as atividades que não sejam decisórias ou não gerem impacto relevante na execução das ideias. Essa é a forma de se concentrar na implementação de ideias, sejam elas parcerias, livros, artigos, empreendimentos ou novos serviços.
Nessa linha, ainda utilizando como exemplo o sócio de um escritório de Advocacia, é imprescindível que ele evite redigir meras petições simples ou ir ao fórum fazer carga de autos. Sua rotina deve ter como ponto nevrálgico uma agenda de encontros e reuniões com clientes estratégicos, potenciais clientes e novos parceiros.
Portanto, priorizar o que deve ser priorizado para a implementação da ideia é uma das principais formas de tirar planos do papel. Isso envolve inúmeras questões, como evitar a procrastinação e não buscar desculpas, entre as quais a de que o mercado jurídico está saturado.
Ademais, desenvolver múltiplos projetos simultaneamente exige uma afinidade entre esses empreendimentos. Como expliquei acima, desenvolvi várias iniciativas concomitantemente nos últimos meses, mas todas ligadas à área criminal. Se houvesse algum projeto em outra área, possivelmente os outros seriam afetados. Em suma, é muito mais plausível concentrar os esforços em torno de um ponto em comum entre os vários projetos, pois, dessa forma, surgem novas ideias executáveis.
Por fim, deixo uma reflexão. Ninguém é lembrado por ter tido excelentes ideias e permanecido omisso, mas sim por executar essas ideias. A cultura jurídica precisa de mais proatividade e capacidade de implementação, sob pena de permanecermos continuamente caindo nas habituais reclamações sobre a saturação do mercado, o descaso das autoridades e a desvalorização de nossas atividades. É preciso mover-se com senso de urgência!
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