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Evinis Talon

9 coisas que eu gostaria de ter ouvido na faculdade de Direito

15/09/2017

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9 coisas que eu gostaria de ter ouvido na faculdade de Direito

Após a publicação do meu texto sobre os motivos de ter pedido exoneração do cargo de Defensor Público (leia aqui), recebi inúmeras mensagens de estudantes que estão pensando no futuro, Advogados que se sentiram mais encorajados e servidores públicos que estão pensando em mudar de vida. Muitas pessoas se identificaram com alguma das partes: dificuldades, sonhos, mudança de rumos etc.

Contudo, algumas mensagens eram muito semelhantes e diziam: “O que você gostaria de ter ouvido quando era um estudante de Direito?”. Foi pensando nessa pergunta que escrevi esses conselhos com coisas que ouvi (mas não segui) ou gostaria de ter ouvido durante a faculdade. São conselhos que valem para os vestibulandos, estudantes do início da faculdade, formandos, jovens Advogados, servidores públicos… enfim, para todos que respiram.

1. Leia de tudo

Veja o que eu disse: “leia de tudo”.

“Evinilson (as pessoas erram meu nome…), quer dizer que devo ler todas as matérias jurídicas?”. Não. Leia de tudo!

“Quer dizer Filosofia, Sociologia e Política?”. Novamente, não. Leia TUDO!

Quando digo tudo, quero dizer não apenas Direito, mas também Filosofia, Sociologia, Português, Literatura, Política, Física, Química, Biologia, Economia, Administração, Marketing, notícias, Revista Donna, gibis da Turma da Mônica e tudo mais que aparecer na sua frente. Qualquer leitura, ainda que aparentemente inútil, vai agregar algum conhecimento que, cedo ou tarde, será utilizado. Você só ligará os pontos no futuro.

No início da faculdade, estava na biblioteca estudando para uma prova. Vi que alguém havia deixado em cima da mesa um livro de uma disciplina que eu estudaria apenas alguns semestres depois. O título chamou a minha atenção. Então li por uns 30 minutos as partes que considerava mais importantes. Alguns anos depois, estava sentado diante de uma seleta banca de examinadores na prova oral da Defensoria Pública. Em uma das respostas, mencionei esse livro. O examinador me interrompeu perguntando se eu tive acesso a essa obra. Respondi que sim e, então, ele sorriu.

No futuro, você ouvirá – se ainda não ouviu – sobre interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade. Em termos gerais, essas palavras significam a utilização de várias matérias diferentes para analisar algo. O profissional do presente já necessita dessas habilidades. O do futuro não sobreviverá no mercado sem elas.

Imagine conseguir relacionar a interpretação de um dispositivo legal com um texto literário, como Os miseráveis. Ou pensar na estrutura do Judiciário por meio de conceitos biológicos. Se isso não te interessa, veja por outro lado: quanto mais temas diferentes você ler, mais conteúdo terá para conversar com seus clientes, empregadores e colegas de profissão no futuro.

2. Vá aos livros, mas não tire os olhos da vida

Essa é uma frase autoexplicativa que ouvi do meu professor e amigo Hélio Coelho, mas, por algum tempo, não a apliquei na minha vida.

Busque o conhecimento, estude, atualize-se, mas não se permita ser um técnico desumano. Os livros apenas fornecem o conhecimento, mas é a vida que nos ensina o que fazer com ele.

Viver para os livros e não trazer os livros para a vida é um enorme perigo. Com o tempo, você verá apenas folhas de papel e letras em Arial 12, esquecendo-se de que, por trás de tudo isso, há pessoas concretas, de carne e osso, cujas vidas dependem do resultado desse processo.

Se você pretende advogar, precisará estudar muito, mas também deve estar inserido na sociedade, participar de eventos e de associações, conhecer pessoas etc. Há um ditado que diz: quem não é visto não é lembrado.

3. Saiba que seus únicos “patrimônios” são: nome, conhecimento e pessoas

Quanto ao seu nome, refiro-me à forma como a sociedade te enxerga. Isso demora vários anos para ser construído e apenas alguns segundos para ser destruído. Seja e transmita a ideia de que você é responsável, honesto e ético. Isso vale para quem vai passar por uma investigação de vida pregressa em algum concurso ou para quem quer construir uma carreira sólida na iniciativa privada.

O conhecimento é seu instrumento de trabalho em qualquer carreira que você desejar seguir. Se você perder tudo, mas ainda tiver conhecimento, reconstruirá tudo que perdeu. Qualifique-se continuamente. De preferência, especialize-se e busque a excelência em determinada área, sem, contudo, deixar de ler outras disciplinas.

Há várias frases sobre a importância das pessoas na sua vida profissional e pessoal. Uma delas diz que “você é a média das 5 pessoas com quem mais convive”. Outra é que “se você quiser ir rápido, vá sozinho, mas se quiser ir longe, vá acompanhado.” Valorize as pessoas que estão ao seu lado desde o início, traga novas pessoas para a sua jornada e entenda que pessoas valem muito mais do que coisas.

4. Pense na vida que você quer ter antes de pensar no dinheiro que quer receber

Não estou dizendo que pensar no salário, honorários, subsídios ou qualquer coisa semelhante não seja relevante. Apenas entendo que você deva considerar a vida que quer ter antes de pensar especificamente nisso.

Quando fui Defensor Público, ouvi alguém me dizendo “por quanto você vendeu o seu maior sonho?”. Se você pensar em dinheiro antes de pensar no seu sonho ou na vida que deseja, essa pergunta sempre valerá para você. Você estará trocando seu sonho por um valor mensal. Isso é permitido, mas não é recomendável.

E não pense que você está trocando seu sonho pela única oportunidade que existe. Não há falta de oportunidades, mas sim falta de conhecimento sobre as oportunidades que existem. Costumo dizer que temos poucas opções: aquela que pensamos ser a única e todas as outras que desconhecemos. Felizmente, você está no curso que oferece mais oportunidades.

5. Ouça os mais experientes

Primeiro, não tenha medo de pedir conselhos e fazer perguntas a pessoas que estão em um nível profissional acima do seu. Essas pessoas estão sempre dispostas a abrir um espaço na agenda para conversar sobre os desafios que enfrentaram e dar suas valiosas opiniões.

Eu me lembro de que, no quarto semestre da faculdade, enviei um e-mail para um renomado autor de Direito Civil com uma pergunta. Estava muito preocupado com os termos que usaria, se chamaria de doutor, professor ou Excelência (quando era conciliador, fui chamado de “majestade”). No final, a resposta veio em menos de 24 horas em tom absolutamente informal.

Quando alguém me manda mensagem perguntando sobre tema do TCC ou algo parecido, normalmente minhas respostas têm 10 vezes o número de linhas da pergunta. Alguém pedir a sua opinião é uma das maiores formas de elogio que existe.

Dedique um tempo para conversar com essas pessoas mais experientes, pergunte qual é a melhor lição que poderiam te passar nesse momento e ouça atentamente. Se não conseguir encontrá-las, vá à Subseção da OAB de sua cidade ou à sede da Seccional do seu Estado. Tente fazer uma entrevista com o membro do Judiciário, do Ministério Público ou da Defensoria Pública da sua cidade.

6. Ajude os menos experientes

Enquanto você está na faculdade, faça grupos de estudos, ofereça-se para ser monitor e ensine quem tem alguma dificuldade em determinada matéria. Depois de formado, dê aulas e palestras, ensine e seja voluntário em tudo que você puder.

Se os conselhos 5 e 6 forem aplicados conjuntamente, muitos procurarão os mais experientes e outros ajudarão os menos experientes, criando uma grande corrente do bem. A comunidade jurídica ficará muito mais qualificada e fortalecida.

Nem se cogite a ideia de que, ajudando os menos experientes, você terá mais concorrentes no futuro. Na verdade, é muito provável que o seu colega ajudado se transforme em um parceiro futuramente. Quando você ajuda alguém, o seu nome (conselho 3) passa a ter um novo defensor, alguém para dizer o quanto você é competente e altruísta. Sobre isso, recomendo a leitura do livro “Dar e receber”, de Adam Grant.

7. Saia da zona de conforto todos os dias

Há mais de 1 milhão de Advogados no Brasil. O número de bacharéis em Direito é significativamente superior a isso. No meio dessa multidão, você pode ser apenas mais um ou pode buscar aquele desejável ponto acima da média.

A zona de conforto é onde o mediano/medíocre se encontra. Por outro lado, o desconforto é aquele ponto doloroso em que os verdadeiros resultados acontecem. A busca pela concretização de suas metas depende da constância desses projetos e desse desconforto. Se você quer conseguir um estágio, procure por uma vaga todos os dias. Se pretende passar em um concurso, dedique-se diariamente pelo tempo que for necessário.

Tudo que você fizer contribui ou não para alcançar o resultado que você deseja. Não existe meio-termo.

Se você não sente desconforto enquanto estuda, provavelmente não está dando o seu máximo. O desconforto é o melhor termômetro de nossa dedicação. Para um advogado, por exemplo, o conforto é ficar sentado no escritório vendo o tempo passar. Evidentemente, isso não é dedicação.

Busque superar os seus limites todos os dias. Estude um pouco mais do que você aguenta e não fique restrito às anotações da aula. Faça perguntas durante a aula, mesmo que seu coração fique acelerado e você comece a gaguejar. Seja hoje melhor do que foi ontem.

8. Não pense em cedo/tarde ou novo/velho

Alguns pensam que são novos demais ou que é muito cedo para fazer algo. Não existe “cedo”. A resposta é muito simples: não há treino para a vida. Tudo é vida. E fazer algo imperfeito é melhor do que não fazer aquilo que você imagina ser perfeito. Em outros termos, feito é melhor do que perfeito.

Portanto, faça aquela prova de estágio para a qual você imagina que não está preparado. Inscreva-se no concurso mesmo sem ter estudado por muito tempo. Faça a prova da OAB na primeira oportunidade em que isso for possível. Arrisque-se! Se você não tentar, terá 0% de chance de conseguir qualquer coisa.

Também não pense que é tarde ou que está velho demais para algo. A idade é apenas um número. O Direito é uma atividade intelectual e, enquanto você tiver ideias, ainda dá tempo de advogar, fazer concurso, publicar algo, dar aula e, principalmente, viver.

Em suma, afaste do seu vocabulário essas noções de tempo. Apenas faça o que precisa fazer neste exato momento.

9. Não seja tão dependente do impulso dos outros

Se você for sempre dependente do impulso de professores e orientadores, ficará desnorteado depois que o curso terminar. O seu curso durará 5 anos, mas seu período de aprendizagem terá inúmeras décadas.

Treine a habilidade de aprender sozinho e independentemente da cobrança de terceiros. Há um ditado que diz: “quem faz a faculdade é o aluno”. Assim, leia livros que seu professor não recomendou, revise as matérias que você já teve na faculdade, estude por conta própria aquelas matérias que você ainda não teve e leia os clássicos mesmo que seu professor indique livros esquematizados, mastigados ou resumidos.

Você é o maior interessado no seu sucesso.

Leia também:

  • 9 coisas que não te ensina(ra)m na faculdade de Direito (leia aqui)
  • Os professores de Direito precisam ser mais acessíveis (leia aqui)
  • Eu não fui um bom aluno de Direito… (leia aqui)

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Evinis Talon é Advogado Criminalista com atuação no Brasil inteiro, com 12 anos de experiência na defesa penal, professor de cursos de mestrado e doutorado com experiência de 11 anos na docência, Doutor em Direito Penal pelo Centro de Estudios de Posgrado (México), Doutorando pela Universidade do Minho (Portugal – aprovado em 1º lugar), Mestre em Direito (UNISC), Máster en Derecho Penal (Universidade de Sevilha), Máster en Derecho Penitenciario (Universidade de Barcelona), Máster en Derecho Probatorio (Universidade de Barcelona), Máster en Derechos Fundamentales (Universidade Carlos III de Madrid), Máster en Política Criminal (Universidade de Salamanca), especialista em Direito Penal, Processo Penal, Direito Constitucional, Filosofia e Sociologia, autor de 7 livros, ex-Defensor Público do Rio Grande do Sul (2012-2015, pedindo exoneração para advogar. Aprovado em todas as fases durante a graduação), palestrante que já participou de eventos em 3 continentes e investigador do Centro de Investigação em Justiça e Governação (JusGov) de Portugal. Citado na jurisprudência de vários tribunais, como TRF1, TJSP, TJPR, TJSC, TJGO, TJMG, TJSE e outros.

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